sábado, 28 de junho de 2008

Folha ao Vento


Por solicitação de um dos NóbregaIsidro, vou postar a "poesia" de papai que li para fechar meu discurso de posse. Descobri-a entre velhos papeis. Ele a havia me enviado em novembro de 1991, quando me encontrava na França. Foi muita emoção, li-a diante de uma platéia acadêmica que ficou perplexa diante de tanta emoção expressa em palavras. Quase que não consegui le-la, Deyse que o diga....:) E como sou assim mesmo, coloco uma foto para criar o clima...

Quem quiser ler o discurso na íntegra visitem meu outro BLOG http://angelaesilvia.blogspot.com/
Encerrei meu discurso assim:
"Gostaríamos de agradecer, em particular:
A Nelson pai e filho, aqui presentes, Giovanni e Bruno (distantes), me perdoem por mais essa missão, se vocês estão aqui, presentes, é porque também são cúmplices.
Quero agradecer a presença de Norma, Desire e Alexandre meus queridos irmãos, que vieram de tão longe.
Quero pedir permissão a todos os presentes, para finalizar com um “verso” escrito pelo meu pai, de origem muito humilde, que não teve a oportunidade de ter acesso ao ensino superior entretanto proporcionou esse acesso aos seus 13 filhos, e em universidades públicas.
Ele escreveu várias poesias e contos e a ele dedico esse momento, que considero mais uma vitória.
Escolhi, entre vários, um que ele escreveu e me enviou, quando eu me encontrava na França, realizando meu Doutorado.

Folha ao Vento

Ao longe desta terra, de seus rios e vasto mar
Sob outro céu sem estas estrelas brilhantes
Sem estas matas floridas e cerrados verdejantes
Sem as alvas cascatas nos montes e pássaros a cantar

Sei que sentes saudades deste chão e desta gente
Do passado, do presente e dos caminhos já percorridos
Do litoral, do sertão, dos nordestinos sofridos
Desta legião de heróis de pés queimados por esse chão tão quente

Tua vida bem retrata a imagem da fé e da esperança
Deste povo que não se cansa diante de uma luta pra vencer
Que arranca do âmago a energia fecunda, seu néctar do viver
Indomável e resistente a todo esse sofrimento

Um dia, quando subires ao topo, através do reconhecimento do teu trabalho
Ouvirás então a canção de embalo das virtuosas e suadas batalhas
E quando, novos horizontes se abrirem, não percas de vista, nunca
Esta terra amada, tuas raízes, teu berço e desse povo tão sofrido

Muito me custa a espera desses louros que um dia cingirão tua cabeça
Porém, na vida não se ganha sem perdas e grandes sacrifícios
Pois é carregando pedra por pedra e subindo
andar por andar que se constrói
Assim é o preço das saudades por tua ausência

Aqui, o velho pássaro, cabisbaixo, quase sem forças e
sem poder mais voar tão longe, sem poder mais migrar
Fica aqui sonhando, com saudades do seu bando voando, já disperso
Entristece e chora calado, a observar o por sol, agora, sempre do mesmo lugar.

Manoel Izidro Sobrinho ( 17.11.1991)

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Sua opiniao e muito importante, participe, comente...