quarta-feira, 18 de fevereiro de 2009

E assim disse Marisol


Por que a chuva chega a molhar minha alma?
Por que sou tão seca num dia ensolarado?
Minhas raízes estão lá no sertão e tiram da terra seca a essência da vida.
Minha alma lança-se em fuga, empreende vôos inimagináveis para ser cerca de pedra e mandacaru.
E se a alma levita de olho arregalado de espanto e prazer,
o corpo padece as malquerenças do verão quase que perpétuo e se fixa no solo fincando raízes. Há pelo ar prenúncio de que todos os sonhos vêm com os ventos de inverno.
E a brisa mansa com cheiro de verde acalenta com uma canção de rio manso correndo.

Quem nunca viu a seca de perto jamais vai me entender.
Quem nunca viu um choro sem lágrimas não sabe a dor de sorrir numa boca com fome.
O sertão é tão vasto que existe em todas as almas. Ávida, busco o sumo doce da flor de mandacaru.
Agressiva, devoro todos os quereres com a fome do carcará.
E se há de ser lenta a agonia da morte, que venha como chuva fina que dá de beber à terra seca, de uma secura quase que eterna, mas que abriga em seu seio o mistério da vida e da morte...Reencontro Caicó .
O cheiro de verde entre as narinas. Tudo concorre para a alegria.
A feira de rua, o burburinho da chuva de ontem que ainda respinga das algarobas, a conversa mole no café do mercado, a beleza dura das pedras dos serrotes .
A cidadezinha tem seus encantos escondidos em pedra bruta.
Nos olhos das pessoas. Nos sonhos das meninas adolescentes, como um dia eu fui.
Reencontro-a comovida. Mora dentro de mim como um espinho de coroa-de-frade, belo e dolorido. Tem altos e baixos como a minha alma discreta.

Respiro a terra em que nasci e encontro em mim todos os seus becos com todos os seus pecados mais indecentes. Encontro em mim a beleza da canção do sino tocando a hora do Ângelus.
Um anjo abençoa toda a cidade e encantado torna-se homem para viver por lá.
A cantiga da carroça de boi, a roupa de couro, o queijo quente, a tapioca, o tamborete e a rede na varanda fazem parte de mim.
Como não existiria a poesia, se ela está presente desde sempre em mim?
Ao mesmo tempo sinto-me feliz por ter tido o privilégio de ter lido os poemas originais de Sr. Isidro. Daí fica explicado porque a nossa relação era tão íntima ( herdei dele sua veia poética ) . Meu querido , A tarefa é árdua por demais.

Eu não gostaria de lhe decepcionar, e às vezes eu mesma fico desiludida.
Mas vou, continuo nessa busca que não sei onde vai parar.
Aliás, espero que não pare nunca, então não restará muita coisa a fazer.
Quando minha busca terminar, aí será o caos, a doideira total, e isso, meu caro, sei que não vou suportar

Marisol

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